quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Um pouco de poesia...na magia da palavra e do sentir!!!


Olá!!!!

Encontrei um texto que é "uma leitura singular, desconcertante e de pura poesia"

Leiam a entrevista do poeta Manoel de Barros na Revista Caros Amigos.




Uma entrevista exclusiva com o autor de Memórias Inventadas - A Terceira Infância- e maior vendedor de livros de poesia do País. Imperdível.Lançada no mercado de publicações, por um dos mais brilhantes jornalistas brasileiros, Sergio de Souza ( que partiu este ano), a revista Caros Amigos sempre circulou, nestes 11 anos, sob um ponto de vista original e diferenciado. Neste final de ano presenteia seus leitores e fãs, trazendo uma entrevista exclusiva com o poeta pantaneiro: Manoel de Barros. Reza a lenda, que cada vez mais arredio à imprensa ( perdeu um filho recente) e avesso a entrevistas, à Caros Amigos, mais uma vez, conseguiu o feito, por sua admiração à revista e seus editores e pela interlocução de seu correspondente no Mato Grosso do Sul, o repórter Bosco Martins. Amigo do poeta e de sua esposa Stella, há quase trinta anos, é um dos poucos jornalistas que ainda freqüenta sua intimidade e residência em Campo Grande/MS, onde mora o poeta. Esta relação de amizade, fez com que o mesmo se tornasse, uma espécie de interlocutor, dos admiradores que querem conhecê-lo. Desta feita, já estiveram na residência do casal, entre outros: José Hamilton Ribeiro, José Julio Chiavenato, Apolônio de Carvalho, Cássia Kiss, entre dezenas de globais, Gilberto Gil , ainda Ministro , que se “avexou” por o poeta tê-lo convidado à “praticar o ócio”, etc. Estas e outras estórias, se transformarão em livro ( já no prelo) devendo ser lançado em breve pelo jornalista. Mas é graças ao resultado desta intimidade entre o jornalista e o poeta que foi possível, à Caros Amigos, nos revelar confidências inéditas: Manoel o fala da obra de Paulo Coelho e de seu encontro com Vinicius Moraes, numa famosa casa da boêmia carioca da década de 60, do seu quase “encontro” com Manuel Bandeira e revela inclusive, uma decisão dolorosa à todos que amam sua poesia. Por conta da idade, o poeta revela ao jornalista, que “Memórias Inventadas- A Terceira Infância-” ( recém lançado pela Ed. Planeta), pode ser seu ultimo livro. Para os que acham pouco, mais revelações exclusivas sobre Manoel de Barros que completa neste mês Dezembro, 92 anos ( dia 19). Seguindo a sina de interlocutor e confidente do poeta , Bosco Martins, introduz desta vez , em sua sala de visitas outros dois jovens jornalistas, que trazem um presentão para ele nesta data especial: a informação de que sua obra ganhou tradução para língua inglesa. Suas tradutoras, como as de Guimarães Rosa e Machado de Assis, afirmam que foi preciso se desdobrarem para transportá-lo para a língua de Shakespeare. Sua “ originalidade lingüística,” provocou “um verdadeiro exercício semântico e poético”, garantem as duas, aos jornalistas João Carlos Lopes e José Santini. Juntos , com Bosco Martins assinam, este material imperdível e inédito. Um belo presente de natal, que poderá ser encontrado, nas bancas de todo o País, a partir do próximo 15 de Dezembro, numa tiragem de 50 mil exemplares. Leiam os principais trechos da matéria. Manoel de Barros desvenda a infância da palavraMaior vendedor de livros de poesia do País, o poeta pantaneiro diz que a semente da palavra é a voz de Deus, mas que só as crianças, os tontos e os poetas podem semeá-la..


Mesmo quase sem escrever, Manoel de Barros não é o poeta triste e solitário à espera das horas. É na infância que ele continua a viver. E é dessa infância que nasce toda a sua poesia. Sua saudade é a fonte do minimalismo que eterniza as coisas sem importância do sertão pantaneiro. "Meu umbigo ainda não caiu. A ciência é essa: eu ainda sou infantil". Mas a sua ciência não é lógica, é um contra-senso. Tudo nele é contraditório e desaforado. Nas paredes da sala de sua casa estão ladeados um arlequim de Degas e um velho retrato do vagabundo de Chaplin. No escritório onde produz uma poesia que só explica com imagens, as paredes são brancas. Nas suas mãos estão os profetas bíblicos, embora ele já tinha dito que é comunista. Reservado, há mais de uma década ele se dedica a responder perguntas apenas por escrito. Foram raros os momentos em que se permitiu mostrar sob a palavra falada. Mas foi num desses raros momentos que ele recebeu a Caros Amigos em sua casa, em Campo Grande, cidade onde mora e mantém o seu "escritório de ser inútil, isto é, de ser poeta".Mas que fique claro: esta entrevista não se trata de um lançamento do seu novo livro. Ele faz questão de enfatizar: "Eu não lanço nada. Porque essa palavra "lançar", lá em Cuiabá, quer dizer vomitar. Então eu nunca vomitei e nem vou vomitar aqui".Leia os principais trechos da entrevista:Leituras Estou só relendo. Essa rapaziada mais nova eu quase não leio, inclusive porque estou prejudicado. Leio vinte minutos e começo a lacrimejar. Então eu leio as pessoas que já conheço e que gosto muito. Gosto demais de ler o Padre Antonio Viera, Guimarães Rosa, Machado de Assis, e o velho testamento: os Profetas do velho testamento. Sou fanático pelo velho testamento - pela literatura, como livros de arte. Não encaro aquilo como livro religioso - também me interessa, mas gosto principalmente dos profetas, me agrada muito a linguagem. Mas me angustia, sim, essa coisa de ler pouco. Porque eu acho que a literatura e qualquer arte serve para desabrochar a imaginação. E se você não tem boa leitura, não tem boa musica, não tem boa pintura, a sua imaginação, pelo menos a minha, eu acho que fica um pouco embotada, fica um pouco sem caminho e não desabrocha. Eu tenho escrito muito pouco, a minha imaginação criadora está muito prejudicada. Eu estou bem castrado, sabe. Mas não é culpa minha, velho é isso mesmo, tem limitações. A gente tem que aceitar sem chorar. Escritório de ser inútilÉ muito pequeno, só cabe a mim mesmo. Eu tive uma biblioteca lá no Rio, porque eu morei lá muitos anos, e quando eu mudei para Campo Grande, encaixotei tudo para enviar, mas se perdeu tudo pelo caminho. Não sei se foi algum roubo... Mas era uma biblioteca boa. [Hoje] tenho muitos coisas antigas, mas não tenho essa vaidade [de ter livros raros ou autografados]. E escrevo sempre a mão, no lápis. Eu tenho muitos lápis usados, sabe, muitos, uns cem. Continuo escrevendo até o toco, e depois guardo. O dom da palavra Primeiro eu sou cristão, eu acredito no dom. A pessoa nasce como uma predisposição, que eu chamo de dom para a arte. Eu acho que nasci com esse dom. Porque desde que me entendi por gente, com 13 anos, interno no Colégio dos Maristas, que eu fui ler pela primeira vez o Padre Antonio Vieira, foi que descobri o que era poesia, o que era literatura, o que era uma aplicação literária pela palavra. Então eu fiquei apaixonado pela palavra. Você sabe o que é se apaixonar pela palavra? É você sonhar com ela, e você tomar nota, e de manhã você saber se ela dormiu... A partir disso, eu nunca mais quis me aplicar a outra coisa. Eu achei que isso era a minha única destinação. Eu acho que poesia é um parafuso a mais na cabeça, outra uma vez três de menos. E nunca mais saiu da minha cabeça essa predestinação, essa tara, esse homicídio, essa obsessão pela palavra. Desde que comecei a ler o Vieira, eu também comecei a escrever. Escrevi para o meu pai e para minha mãe que já tinha descoberto minha vocação, que não era pra médico, dentista, engenheiro; era pra fazer frase. Eu chamo isso de dom.Influências Eu li toda a literatura portuguesa, todinha. Então fui ler francês, Rimbaud, Baudelaire, e esse pessoal toda da língua francesa. Morei nos Estados Unidos por um ano, para ler os poetas de língua inglesa. Mas o Padre Vieira me assusta, pela linguagem própria dele, pela linguagem poética dele, que é uma linguagem literária mesmo, e então descobri o que era literatura. Passei a ler tudo dele, todos os Sermões que ele tinha feito na vida dele, com o maior gosto. Foi um negócio que me levou para toda a literatura quatrocentista portuguesa. Eu passei do Vieira para os outros, Gil Vicente, Camões , etc. Então eu li toda a literatura portuguesa. Desencontro com Manuel Bandeira Conheci o Manuel Bandeira quando eu morava no Rio de Janeiro e dava aula na Faculdade de Filosofia, onde ele lecionava literatura. Ele morava em um apartamento - já tinha deixado o beco. Eu era apaixonado pela poesia dele, sou apaixonado pela poesia dele, gosto muito. Inclusive fui até Recife para conhecer a casa dele, na Rua da Aurora; cheguei lá e fiquei decepcionado: perguntei para as pessoas ali aonde era a casa dele, e ninguém conhecia quem era o Manuel Bandeira. Como eu já tinha ido a Pernambuco, resolvi conhecê-lo [pessoalmente, no Rio]; peguei coragem. Ele morava no quinto andar, em um edifício na Esplanada do Castelo. Subi até lá de elevador. Bati com o dedo na porta do apartamento, que eu sabia que era dele pelos jornais. Bati três vezes e não apareceu ninguém. Deu-me um medo, sabe, me deu um pavor. Saí correndo e desci pela escada a baixo. Não conheci o Bandeira. Eu fui para conhecê-lo, mas não o conheci por medo. Encontro com Vinícius de Moraes"Eu conheci Vinícius de Moraes num puteiro. Eu estava de férias em Corumbá, eu tinha vinte e poucos anos, e ele dirigia o Suplemento Literário do Jornal do Brasil. Eu resolvi escrever um poema e enviar lá para o Suplemento, assim de gozação comigo, eu sei que não ia merecer. Mandei para lá e na outra semana veio o meu poema na primeira página, e era um poema imenso. Aí então o Vinícius ficou sabendo que existia o Manoel de Barros. E um dia fui para o Rio, solteiro ainda, e fui para um dancing que existia na Av. Rio Branco. Então entrei e quando olhei lá no meio, sentado numa mesinha, estava o Vinícius, com uma mulata. Eu resolvi me apresentar, já tinha tomado até uns conhaques. Sentei na mesa e disse que era o Manoel de Barros, que ele tinha publicado um poema meu. Ele me cumprimentou e tal, mandou chamar uma mulata lá pra sentar comigo. Aí quando acabou o Dancing, agente foi tomar uma canja, tinha um lugar lá na Galeria Cruzeiro, onde tinha uma canja noturna, para os bêbados, assim ficamos amigos"Academia Não conheço nenhum intelectual brasileiro. Conheci só o Carlos Heitor Cony, lá em Cuiabá, quando recebi um prêmio do governador, e o Cony estava lá. No meio de uma porção de gente, e ele me viu e me chamou. Ele disse: "eu quero te falar só uma coisa, eu quero que você vá para a Academia Brasileira de Letras". Eu disse: "de jeito nenhum, não gosto de chá!" Falei mesmo para ele: "Cony, eu não tenho espírito acadêmico, não sou obediente à língua portuguesa, eu gosto muito de corromper a língua, e então ta fora esse negócio da academia." Eu seria um mal elemento lá, um chato. Não dá certo para mim, eu não tenho muito facilidade de conversar com intelectuais, sabe. LinguagemSempre achei a linguagem destroncada mais bela que a comum. E sei que isso foi a causa de meu tardio reconhecimento. Eu concordaria que a linguagem é a minha matéria plástica. Eu plasmo a linguagem para me ser nela. Agora eu não sei se sou um defeito das minhas origens ou um efeito delas. Gosto da semente da palavra, que é a voz de Deus, que habita nas crianças, nos tontos, nos Profetas e nos poetas. Gosto da infância da palavra. Minimalismo Penso que vem de minha infância esse olhar minimalista. Eu fui criado no chão a brincar com os sapos e com as lagartixas. Eu tenho paixão pelas coisas sem importância. As coisas muito importantes me aniquilam. Dou como exemplo a bomba atômica. Eu escrevi este verso: O cu de uma formiga é mais importante do que uma bomba atômica. E eu acho mesmo! Primeiro livroO primeiro livro meu publicado foi por um camarada que eu encontrei na rua, sujeito do Rio Grande do Sul, que era editor. Ele perguntou se eu tinha algum livro pra publicar, eu disse que por acaso tinha um. Dei a ele o livro e ele leu na casa dele; disse que tinha gostado muito. Levou o livro lá para o Rio Grande do Sul e publicou. Mas [ele] nunca me disse nada, não fez contato comigo, e não sei de nada e não quero saber - e eu acho que o cara já morreu, há muito tempo! Poesia de imagemEu acho que não sou [um poeta] popular. Eu acho que de certa maneira chego a ser difícil, porque tenho muita criação de imagem, sabe. As pessoas que gostam mais de usar a razão para ler, não gostam muito de mim. Só aqueles que usam a sensibilidade são meus leitores, eu tenho certeza disso. As pessoas que lêem querendo compreender, não. Porque eu não quero falar nada. São só umas imagens. Eu acho a minha poesia tem muito haver com as artes plásticas, e com o cinema também. Sou apaixonado pela pintura. Eu tenho a facilidade de enxergar atrás do quadro, aquilo que eles querem dizer.

Eu sou um apaixonado pela vida primitiva, pelas origens nossas, e achei que era muito importante conhecer também a vida intelectual. Mas eu levei um choque, porque eu era primitivo quando cheguei lá [em Nova York]; e fiquei deslumbrado, aí a minha vida virou .

Sabe o que eu fazia lá em Nova York? Eu ia para um lugar que eles chamam de 'clous ter', que é um convento que foi trazido da Itália, uma igrejinha do século XIII, trazida pedra por pedra para os Estados Unidos e reconstruída nesse lugar, que eu freqüentei todas as tardes para ouvir música barroca. Não é a minha cara não, né? (risos). BOSCO MARTINS – correspondente da Caros Amigos/MS, colaborador dos sites: comunique-se, overmundo e cronópios.bosco.martins@carosamigos.com.brJOÃO CARLOS GOMES E JOSÉ SANTINI - Jornalistasjoao.carlos.los@gmail.com
tags: Bonito MS literatura
Fonte Disponível em: <>.Acesso em 24 de set. de 2009.




Para saber mais: Links imperdíveis!!!!
http://www.filologia.org.br/soletras/16/manoel%20de%20barros%20os%20desprop%C3%B3sitos%20da%20poesia.pdf

http://ler-e-escrever.blogspot.com/2007_06_01_archive.html
http://www.fabiorocha.com.br/ind.htm
http://www.educacao.rj.gov.br/revista/EducacaoemLinha2.